18 de abr. de 2009

Como apertar o cinto? Acabou até a barriga

O presidente Lula talvez não se incomode muito com os discursos e protestos da Oposição ou mesmo com as críticas da imprensa, mas certamente está preocupadíssimo com o coro dos 700 prefeitos, reunidos nesta quarta-feira no auditório do Senado, no seminário “Municípios e a crise brasileira”. O título da coluna resume a queixa unânime sobre os cortes nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios pelo governo federal, e inspirada pelo discurso do prefeito baiano Jônatas Ventura (PMDB, Barra do Rocha), que se referiu diretamente ao apelo presidencial de que todos devemos apertar o cinto para enfrentar a critse global:

“Se não tiver (sic) uma solução imediata” – afirmou Jônatas, no melhor estilo baiano – os prefeitos vão cruzar os braços. Ninguém vai pedir votos ou trabalhar para a Dilma, deputados ou senadores. Nosso discurso com esse povo tem de ser de pressão. Ou nos ajudam ou vamos parar a nação. O bicho vai pegar, e eles vão acabar se destruindo com a gente. Como o presidente Lula vem pedir para apertar o cinto? Não tem nem mais barriga, o cinto já está nas costelas. Como dividir a panela que já está vazia?”

Barra do Rocha é um município que, tem cerca de 9 mil habitantes mais o seu prefeito vem atuando de forma consistente e brilhante.


O tom de todo o seminário foi tão dramático como discurso de Jônatas e, sem a menor dúvida, foram um sinal de alarme para o presidente Lula e sua assessoria mais próxima. Até o fidelíssimo Severino Cavalcanti – que teve o mandato cassado por tomar gorjeta do concessionário do restaurante da Câmara Federal, quando era presidente da Casa – entrou no coro do choro:

“Estou aqui e falo porque sou fã do presidente Lula. Ele tem de fazer alguma coisa e rápido, para que não aconteça isso aí, que nem ele nem ninguém esperava. Se a gente cair, cai tudo, até ele e Dilma.”

O problema dos municípios – especialmente os pequenos – é grave, mas não muito difícil de resolver. Embora a solução deva ser parte de todo um projeto de enfrentamento da crise e não na base do corre-corre e para atender só onde está doendo mais agora.

Tudo tende a se agravar se a ambulância se tornar a única saída para cuidar da doença. Montadoras puxam para cá, outras indústrias puxam para lá, os banqueiros seguram as pontas, funcionários não querem pagar a conta que não consumiram, militares querem aviões e outras armas mesmo sem inimigos à vista etc. etc. O presidente pode ouvir todo mundo, mas, na hora certa, vai ter de fechar a porta e assumir sozinho a responsabilidade final. Como deve ser no regime presidencialista, no mesmo jeito do Obama – ele deve ser “o cara” para Lula.